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Nova York quer acabar com os bairros de sanduíche

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07/01/2018 10:21
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Foto: Bigstock.

O jantar no Sweetgreen, fast-food de saladas no East Village, costuma atrair estudantes da Universidade de Nova York perto dali. Eles comem com um olho num prato de quinoa orgânica e outro num romance do momento.
“Você não se sente mal comendo aqui”, dizia Matthew Silverman, um rapaz magro, de óculos e boina. “É mais caro, mas estou disposto a pagar. Lugares como esses sem dúvida são indícios da gentrificação, mas onde eu moro, no Brooklyn, existem só umas lojas de conveniência.”
Mila Stanisic, outra universitária, esperava para jantar num concorrente, um Fresh & Co a algumas quadras dali. “Tento não gastar muito comendo fora, mas prefiro isso a algo como o McDonald’s, que não conversa com o meu estômago e tira toda a minha concentração durante o dia.”
Jovens estudantes como Silverman e Stanisic, que entendem o que significa viver numa cidade transformada a cada instante pelo poder do dinheiro, são o público-alvo dessas redes de comida leve que se alastram por Manhattan, mas não passam perto de zonas mais pobres da cidade.
“É fast-food, mas eu prefiro chamar de ‘fast casual’, uma fast-food melhorada”, diz George Tenedios, um dos donos do Fresh & Co, que usa ingredientes da própria fazenda nos arredores de Nova York e tem 15 lojas nos “bairros de negócios” da cidade.
“Não é uma questão de dinheiro, é questão de educação”, diz Tenedios. “Antes, as pessoas viam a comida saudável como um luxo, mas agora veem como necessidade. Quando começamos, poucos lugares ofereciam opções veganas e sem glúten e agora nós estudamos os bairros para ver se é um lugar mais para sanduíches ou saladas.”
Os bairros de sanduíches não raro são os “pântanos alimentares” que a prefeitura nova-iorquina vem se esforçando para erradicar.
“Quando falamos em desertos, pensamos num lugar sem água”, diz Chantelle Brathwaite, da secretaria da Saúde local. “Um pântano é bem o oposto disso. Tem muita água, mas é água suja. Não são lugares sem comida, mas são pontos onde há uma oferta de comida nada saudável muito maior do que as opções saudáveis, como verduras.”
Chantelle Brathwaite lidera um programa em que bate de frente com a indústria do junk food para tornar mais palatável a ideia de culinária saudável em zonas fãs do McDonald’s.
E bater de frente, nesse caso, significa usar as mesmas armas. Brathwaite criou um projeto em que donos das lojinhas de conveniência em bairros onde supermercados e sacolões são escassos recebem cartazes tão chamativos quanto os da Coca-Cola para anunciar maçãs e castanhas.
Implementado há quase seis anos em todos os “pântanos de comida” da metrópole, a iniciativa atinge mil pontos de venda, mas ainda está sendo avaliada pela Prefeitura de Nova York.
“Não existe ainda uma estratégia eficaz para resolver isso. Só sabemos que a obesidade é nosso maior problema de saúde pública”, afirma Ashkan Afshin, professor da Universidade de Washington.
Ele elogia a ideia em curso em Nova York, mas defende mexer mais ainda no bolso do freguês, lembrando estudos que mostram que subsídios a fornecedores de comida saudável em bairros periféricos aliados a impostos maiores sobre refrigerantes, por exemplo, são capazes de aumentar o consumo de verduras e frutas e coibir o de junk food.
“Essa ideia de desertos de comida é real, mas é muito mais uma questão de educar e orientar as pessoas”, afirma Barry Popkin, professor da Universidade da Carolina do Norte e um dos maiores especialistas na epidemia de obesidade que domina o mundo.
“Isso tem a ver com classe, educação, tempo e conveniência”, defende Popkin. “Veja quantas mães solteiras sem tempo para cozinhar vivem nessas zonas. Enquanto parte da população emagrece, a outra continua engordando.”
Esses outros, segundo Popkin, são americanos negros e hispânicos de baixa renda “”o perfil exato dos que vivem nos “pântanos alimentares”.
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