Rotulagem com alegações nutricionais: mais uma tática da indústria para vender alimentos ultraprocessados?
É comum encontrar, nas prateleiras dos supermercados, alimentos com rótulos que indicam uma infinidade de benefícios: um bolo sem açúcar, um suco mais natural, o macarrão fit, um biscoito com mais fibras. A indústria vem utilizando as alegações como estratégia de marketing para ajudar os consumidores a terem uma alimentação saudável, prática e rápida. Mas será que eles cumprem com o que prometem e esses alimentos são realmente boas opções? Uma pesquisa realizada no Brasil analisou produtos vendidos em todo o País para poder responder essa e outras questões relacionadas aos rótulos dos alimentos e bebidas. Saiba mais.
Pesquisadores
Instituições
Publicação
O Brasil, desde 2014, discute o aprimoramento da rotulagem nutricional dos alimentos, o que inclui a implementação de rótulos frontais como medida fundamental para incentivar os consumidores a fazerem escolhas alimentares mais saudáveis. Contudo, antes mesmo de se iniciar essa discussão, a indústria de alimentos e bebidas ultraprocessados, como lasanhas congeladas e sucos artificiais, passou a incluir em seus rótulos alegações ligadas à nutrição, à saúde e a questões ambientais. Um estudo realizado no Brasil analisou se os alimentos que contêm essas informações são realmente mais saudáveis ou se têm altos quantidades de nutrientes nocivos, como açúcares, gorduras e sódio. Também verificou se esses produtos receberiam, na prática, rótulos frontais em formato de advertência para avisar sobre a presença em excesso de alguns nutrientes, segundo critérios da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).
Metodologia
Coleta feita entre abril e junho de 2017
Entre abril e julho de 2017, nas cidades de São Paulo (SP) e Salvador (BA), foram fotografados os rótulos de, aproximadamente, 13 mil itens alimentícios vendidos em supermercados de cinco das maiores redes do Brasil. Após avaliação, foram incluídos 11.434 rótulos no banco de dados, sendo que, para esta pesquisa, foi analisada uma amostra de 30% (3.491) dos produtos da base. As alegações nas embalagens dos produtos foram classificadas como referentes à saúde (sem glúten, fit e sem aditivos, por exemplo), nutrientes (fibras, sem gordura trans, vitaminas, entre outras) ou meio ambiente (orgânico e transgênico, por exemplo). Depois, as alegações foram comparadas ao perfil nutricional do alimento seguindo os critérios da OPAS, com a identificação dos que contêm ou não quantidades excessivas de açúcares, adoçantes, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans e sódio.
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13 mil
Produtos fotografados -
3.491
Alimentos e bebidas analisados -
5
Maiores redes de supermercados
Conclusão
Alegações são usadas para induzir o consumidor a comprar produtos falsamente saudáveis
O estudo encontrou alegações em 41,2% dos produtos da amostra, sendo aquelas referentes a nutrientes as mais frequentes (28,5%), seguidas das referentes à saúde (22,1%) e, menos frequentes, as alegações ambientais (5,2%). Em algumas categorias de produtos, essas alegações eram muito frequentes, como nos cereais matinais e barras de cereais (93,7%) e sucos e néctares de frutas (92,5%). Curiosamente, os alimentos que apresentam alegações relacionadas a nutrientes são mais frequentemente pobres nutricionalmente, e 23,5% deles tinham altos níveis de nutrientes nocivos – produtos com alegações sobre saúde ou meio ambiente tiveram resultados melhores neste quesito. Em alguns grupos, como os dos laticínios adoçados e das bebidas com sabor de fruta, notou-se uma alta prevalência de produtos com nutrientes em excesso entre os que contêm alegações nutricionais nos rótulos. Em resumo, constatou-se que um quarto dos alimentos com alegações continham nutrientes nocivos em excesso e, dessa forma, receberiam advertências frontais, caso o modelo fosse implementado no Brasil.
Essa incoerência, somada ao fato de que as alegações têm grande potencial de influenciar decisões de compras ao confundir e até enganar o consumidor, é um sinal de que os legisladores deveriam considerar a restrição de seu uso em produtos que não sejam de fato saudáveis.
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28,5%
Alegações referentes a nutrientes são as mais frequentes -
1/4
Dos alimentos com alegações receberiam advertências frontais
Artigo Científico
Materiais de apoio
Leis e projetos para se inspirar
Casos inspiradores
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Rotulagem nutricional frontal no Chile (em espanhol)
Os produtos processados e ultraprocessados disponíveis nas prateleiras dos supermercados chilenos passam a exibir alertas na forma de um octógono preto na parte da frente das embalagens que sinalizam quantidades excessivas de nutrientes prejudiciais para a saúde, como sódio, açúcar e gordura. Pesquisas realizadas com a população, após a aplicação da lei, comprovam a eficiência da norma.
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Rotulagem nutricional frontal no Uruguai (em espanhol)
A partir de um decreto assinado pelo presidente do país, alimentos com quantidades excessivas de sódio, açúcar, gorduras e gorduras saturadas devem apresentar um octógono de advertência nas cores branca e preta. O Uruguai é o primeiro país do Mercosul e terceiro das Américas a implementar o rótulo frontal de advertências, que também está sendo aplicado para regular os alimentos em escolas e compras governamentais.
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Rotulagem nutricional frontal no Peru (em espanhol)
O Manual de advertências publicitárias do Peru prevê a rotulagem nutricional frontal de produtos que tenham uma quantidade excessiva de sódio, açúcar e gordura saturada. O governo optou por um modelo igual ao dos chilenos, com a colocação de octógonos pretos na parte superior direita das embalagens.
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Rotulagem nutricional frontal no México (em espanhol)
Em março de 2020, o Governo Mexicano publicou nova Norma de Rotulagem com advertências. A norma é considerada a avançada do mundo, seguindo critérios da Organização Pan-Americana de Saúde .
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