Compreendendo as preferências alimentares das crianças: qual a influência da publicidade?
As crianças brasileiras estão começando a consumir alimentos ultraprocessados, como sucos artificiais e salgadinhos, cada vez mais cedo, o que representa impactos dramáticos para sua saúde. Mas como será que produtos tão prejudiciais para elas estão ganhando espaço em suas rotinas? Essa pesquisa teve como objetivo descobrir as preferências alimentares das crianças e verificar quais estratégias de marketing mais influenciam as escolhas alimentares dos pequenos e de seus pais e responsáveis. Confira.
Pesquisadores
Instituições
Publicação
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008-2009 mostrou que o excesso de peso atinge uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos brasileiras. Com o objetivo de colaborar com o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas e de regulação de alimentos, foi realizado um estudo com crianças brasileiras, de diferentes níveis socioeconômicos, que revelou que os pequenos preferem levar alimentos ultraprocessados, com embalagens chamativas para a escola, em vez de alimentos saudáveis. A pesquisa também mostra que essa escolha não é só das crianças, mas também de seus pais e responsáveis, o que acaba incentivando os hábitos alimentares dos pequenos.
Metodologia
A pesquisa foi realizada com 69 crianças de 7 a 12 anos, de diferentes níveis socioeconômicos, de áreas urbanas do município de São Paulo. Durante os grupos focais, os pequenos tiveram que listar os alimentos e bebidas preferidos por eles, responder questões sobre aspecto e estratégias de marketing que os fazem querer consumir aqueles produtos, desenhar e colar embalagens de biscoitos recheados e salgadinhos, respectivamente, com o intuito de intensificar a venda dos produtos fictícios, criados por eles, perto de escolas. Pais e cuidadores responsáveis pela escolha e compra de alimentos da criança também participaram do estudo respondendo a um questionário.
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69 crianças
51% meninos e 49% meninas -
Pais e responsáveis
Maioria mulheres (81%) que exerciam atividades remuneradas fora do domicílio (72%)
Conclusão
Embalagens com destaque para o produto e cores chamativas são as estratégias mais chamativas
Segundo as crianças, as estratégias de marketing que mais chamam a atenção delas na hora de escolher alimentos e bebidas ultraprocessados são: produto em evidência (imagem de um biscoito recheado, por exemplo), cores vibrantes e chamativas, informações sobre sabor, personagens nas embalagens e brindes que eles possam, muitas vezes, colecionar. Além disso, de acordo com os dados, sucos (81%), refrigerantes (54%), iogurtes ultraprocessados (28%), salgadinhos (61%), frutas (57%), bolos industrializados (55%) e bolachas (41%) são as opções preferidas de lanches das crianças. Apesar de as frutas ficarem em segundo lugar nas opções mais mencionadas de alimentos, bolos industrializados e bolachas foram as preferidas de crianças de classes sociais mais baixas, enquanto as frutas apareceram em quarto lugar (47%).
Alimentos ultraprocessados são favoritos das crianças e pais para lanche
A maioria dos pais e responsáveis (60%) alegaram que as crianças não consomem ou consomem raramente produtos com adoçantes. Contudo, 71% deles disseram que enviam na lancheira biscoitos e bolachas, 58% bolos e bolinhos, 42% salgadinhos, 90% sucos industrializados e 57% bebidas lácteas e achocolatados, entre outros — o que pode significar que eles não conhecem a composição dos produtos alimentícios, já que a maioria tem adoçante em sua composição. A pesquisa também aponta que 45% dos pais e responsáveis declararam não ter o hábito de verificar os rótulos dos produtos que consomem, sendo que 10% deles nunca verificam. Além disso, 82% concordaram com a afirmação de que os elementos visuais presentes nas embalagens de alimentos, por exemplo, cores, alegações e imagens, influenciam a escolha alimentar das crianças.
Artigo Científico
Materiais de apoio
Leis e projetos para se inspirar
Casos inspiradores
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Rotulagem nutricional frontal no Chile (em espanhol)
A lei chilena proíbe a publicidade para menores de 14 anos de alimentos que tenham o octógono preto "alto em" na parte da frente das embalagens, sinalizando quantidades excessivas de nutrientes prejudiciais para a saúde, como sódio, açúcar e gordura. Também proíbe a entrega de brindes junto a esses alimentos e a venda desses produtos em escolas, com o intuito de transformar este local em um ambiente saudável.
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Rotulagem nutricional frontal no Peru (em espanhol)
Além da implementação da rotulagem nutricional frontal, o Manual de advertências publicitárias do Peru foca em ações para promover a alimentação saudável, como atividades educativas nas escolas e a regularização e a fiscalização da publicidade infantil.
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